VIVENDO O JORNALISMO
O momento não
sai da minha cabeça, nunca passei por uma situação como esta, ser agredida e
coagida por um grupo de manifestantes em pleno exercício do meu trabalho era
algo que eu não esperava. Foi a primeira vez que entrei em uma ambulância, e
coloquei uma mascara de oxigênio, a dor dos arranhões no meu braço nem se
comparavam com o tamanho do medo naquela hora. Eu só conseguia pensar em sair
dali. Sábado 22 de junho de 2013 ,não
vou esquecer, saindo para fazer mais uma cobertura das manifestações que
acontecem no maranhão, eu e meu repórter cinematográfico Marcos Jacob fizemos o registro do inicio do protesto na ponte
do São Francisco onde entrevistei varias pessoas, o movimento até então parecia
pacífico, mas após um desentendimento entre algumas pessoas e outras que
estavam em um carro de som, a manifestação se dividiu, indo um grupo para a
praça dom Pedro II, e outro permanecendo no local. O trabalho do repórter é ir
atrás da noticia, quando recebo uma ligação de uma “fonte” me informando que na
praça o movimento estava em clima de violência, quando cheguei ao local, o que
constatei foi um cenário bem diferente do que eu havia visto na ponte, fogo,
bombas, pessoas encapuzadas que não estavam ali para protestar, um grande
numero de policiais. Parecia está cobrindo uma guerra e não um manifesto
democrático.
Quando um grupo tentou invadir a área de proteção a policia jogou
um jato de água para afastar a multidão enfurecida, já era noite quando estas
coisas começaram a acontecer. No jornalismo televisivo, o repórter deve
capturar as sensações e emoções do momento, e tentar passar para o
telespectador, podemos fazer isso em “passagem” (É o momento que o repórter aparece na matéria), era o que eu estava
fazendo narrando o exato momento em que bombas de efeito moral estavam sendo lançadas,
quando uma caiu bem perto de nos, meu nariz meus olhos começaram a arder, minha
garganta parecia fechar, não vi mais meu cinegrafista, em um momento de
desespero humano eu disse para um grupo “vao embora ou isso vai terminar de
forma trágica.. me deixem passar.. me deixem passar” quando eles começaram a me
agredir verbalmente, eu disse que precisava passar para o lado isolado, quando
um deles me segurou pelo braço e disse que se eu passasse todos iriam passar, uma
pessoa que eu nao vi quem era passou a mao no meu rosto, parecia pimenta com
cerveja, outra me arranhou, por conta do
tumulto onde eu estava, fiquei com medo de que lançassem mais alguma bomba ali,
levantei meu microfone e pedi socorro para os policiais militares, que me
tiraram carregada, fui para carro da
SAMU, onde lavei os olhos e as mãos que estavam ardendo bastante. Liguei para o
meu cinegrafista, ele me disse que foi atingindo com pedradas mas que estava
bem, quando eu fiquei melhor, agradeci ao policial militar que me socorreu, e voltei
para terminar minha reportagem, como se nada tivesse acontecido, porque
infelizmente esse tipo de situação faz parte dessa profissão que eu escolhi
para seguir.